sábado, 16 de abril de 2011

Agenda de prioridades da esquerda cabo-verdiana

NOVA ESQUERDA (NE) é – e não mais que isso – um espaço de debate e reflexão sobre a realidade política, social e económica de Cabo Verde.
Nesse sentido estabelecemos como prioritária a seguinte agenda:
1. Promover e alargar um debate sério sobre a política e a sociedade cabo-verdianas

- Reflectir sobre a nossa História desde a luta de libertação nacional até aos nossos dias

- A degenerescência política e ideológica do PAIGC e do PAICV

- A ditadura do partido único: instrumento de opressão do povo e entrave ao desenvolvimento

- A abertura democrática, a década de governação do MpD e os desvios das forças democráticas e da esquerda

- A década de JMN/PAICV, a perversão da democracia e o assalto organizado ao aparelho de Estado pela corrupção e o nepotismo

2. Definir um programa mínimo alternativo: ideológico, político, social e económico

- A actualidade do legado de Amílcar Cabral

- A nova via do socialismo libertário e anti-autoritário

- A referência ética do pensamento e da prática política de Nelson Mandela na construção de um novo rumo para os povos africanos

- Uma nova sociedade no caminho da felicidade pessoal e colectiva

- Uma nova economia social assente nos princípios da liberdade de iniciativa, da cooperação para o desenvolvimento e na organização colectiva, tendo como base o Turismo, as Pescas, a Agricultura, a Música e a Cultura – mais-valias fundamentais da economia de Cabo Verde


3. Construir uma plataforma orgânica de confluência das esquerdas cabo-verdianas

- Organizar encontro alargado das várias sensibilidades da esquerda

- Estabelecer as bases de organização de um movimento político

Eis a nossa proposta, naturalmente aberta a outras posições e metodologias.

domingo, 10 de abril de 2011

Perceber o quotidiano

Há um sentimento generalizado, entre os cabo-verdianos, de que o nosso País é uma Nação à deriva, sem um rumo claro e navegando à vista, sem uma visão estratégica de desenvolvimento assente nas necessidades de justiça e progresso social.

Dois meses após a expressiva vitória eleitoral do PAICV, o desânimo e a insatisfação dominam as conversas de rua, as tertúlias dos cafés e os ajuntamentos dos mercados. Porque, como nunca na nossa História colectiva, tão rapidamente um chefe de Governo caiu em descrédito. O Zé Maria mentiu ao povo! Prometeu-lhe mais empregos e aumenta o desemprego; prometeu-lhe melhor qualidade de vida e intensificam-se os apagões e o aumento dos produtos essenciais. O povo que lhe deu o voto, os pobres que lhe venderam os bilhetes de identidade e os infelizes que alugaram a consciência por um saco de cimento e meia dúzia de verguinhas, são as vítimas de um político sem escrúpulos, de um mentiroso compulsivo e do seu bando.

Mas, mais do que analisar as particularidades bizarras do momento político que vivemos, importa reflectir sobre as causas, os responsáveis e as consequências de um mal antigo, indo às origens do problema e afirmando uma nova alternativa, uma nova reflexão sobre os destinos do nosso Cabo Verde. NOVA ESQUERDA está disponível para esse debate e faz a sua leitura:

- O Estado foi tomado por interesses oligárquicos, com o apoio activo dos governos à frente dos quais têm estado políticos medíocres, incompetentes e mentirosos.

- A corrupção aumentou ao longo dos últimos dez anos, em paralelo com o monopólio do poder exercido pelo PAICV, monopólio esse que tem promovido e protegido redes de interesses que se alimentam da promiscuidade entre as funções do Estado, a política e os negócios privados.

- A economia tem sido asfixiada pela visão estreita da oligarquia tambarina, refém do poder asfixiante dos bancos e das grandes empresas estrangeiras, as mais das vezes ligadas à esfera tentacular da Internacional “Socialista”, em particular ao Partido “Socialista” do “camarada” Sócrates. E, de igual modo, asfixiada pelo cerco às empresas cabo-verdianas - vítimas de um desadequado e injusto acesso ao crédito -, pela desenfreada exploração e as discriminações de muitos trabalhadores e trabalhadoras, os baixos salários, a inexistência de trabalho com direitos, de um salário mínimo e da violação sistemática do Estado de Direito, de que são exemplo evidente as manigâncias e negociatas promovidas por empresas “amigas” do partido, como é o caso da empresa do ex-ministro das infra-estruturas e actual candidato à Presidência da República, Manuel Inocêncio Sousa.

- As relações laborais, o mercado de trabalho e de emprego regem-se pela lei da precariedade e os jovens, tal como aconteceu na fase final do colonialismo, porque não têm hoje futuro dentro das nossas fronteiras, são empurrados para emigração.

- Cabo Verde é refém de um bando de criminosos internacionais que assentaram tenda na nossa Pátria, sacando o máximo possível no menor espaço de tempo e enriquecendo os membros da oligarquia tambarina.

- As pessoas estão descontentes, protestam entre si, insultam, dizem mal, mas ficam em casa, sentadas no sofá a olharem, cada vez mais cansadas e indignadas, as quotidianas novelas do "Mais Cabo Verde", encenadas nos noticiários da RTC.

- A sociedade ferve em surdina, mas não revela, ainda, condições objectivas para o protesto público, para um combate político e cívico que resgate o País do bando de arruaceiros e vigaristas que o dominam.

- Resultante das políticas e da acção dos Governos de José Maria Neves – e da indignidade, nunca assumida pelo PAICV, de 15 anos de ditadura de partido único, de violações aos direitos humanos e de patifaria -, o “socialismo” e a “social-democracia” de que se arvora o partido no poder é sinónimo de ideologia neo-liberal, anti-social e de direita.

- Há um generalizado descrédito dos partidos e da política, reforçado pelas elevadas percentagens de abstencionistas que deixaram de acreditar na utilidade do voto e na participação democrática.

- A grave crise social, a falta de políticas eficazes, a incapacidade dos agentes de Justiça, dos Tribunais a das Polícias [que oscilam entre a incompetência e a compulsão para a violação dos direitos humanos], colocaram a insegurança como uma das maiores preocupações dos cidadãos e dão rédea solta à acção criminosa dos thugs, protegidos pelo partido do poder e utilizados como tropa de choque contra a democracia.

- Ao mesmo tempo, não existem movimentos sociais, o associativismo popular está dominado pelo partido de JMN, refém da acção perniciosa dos comissários políticos, o sindicalismo é residual e, regra geral, “bem comportado” e o medo domina impedindo a ousadia de pôr em causa os poderes instituídos e “legitimados” pela trapaça eleitoral e a máfia dos interesses.

Feita a caracterização, importa agora encontrar as respostas e as alternativas que permitam ao País e aos cabo-verdianos encontrar-se numa plataforma de esperança e de confiança renascida nos ideais da liberdade e da democracia, bandeiras históricas da esquerda anti-autoritária.

O debate é público e aberto a todos.

Paz, terra, pão, liberdade e democracia!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Tomar a iniciativa

Falta esquerda na política cabo-verdiana, falta seriedade na política, é preciso um novo rumo para o País!
A última vitória eleitoral do PAICV, conseguida num quadro de burla sistemática e compra de votos, serviu para encher completamente o saco daqueles que, à esquerda, ainda esperariam um volte face num partido que, reclamando-se da herança de Amílcar Cabral, tem vindo a transformar-se nos últimos 10 anos – e sob a liderança de José Maria Neves – numa agência de empregos e numa central de corrupção.
Entendemos chegada a hora de a esquerda cabo-verdiana, órfã de partido mas moldada no legado de Cabral, tomar a iniciativa e começar a lançar para o domínio público as conversas silenciadas, de anos de frustração e impotência, na clandestinidade de pequenos círculos de intelectuais e trabalhadores nas ilhas e na diáspora.
O PAICV é imprestável, deixou de ter qualquer possibilidade de regeneração política, ética e ideológica. As suas fileiras estão completamente minadas pelo oportunismo, a corrupção e a sede de poder. É um partido dirigido por gangsters, por bandidos organizados que transformaram o que restava do partido de Amílcar Cabral numa associação criminosa.
O partido de JMN e de Filú – adversários internos, mas compinchas na actividade criminosa -, comparsa da Internacional “Socialista”, através da qual promove negócios com empresas amigas, particularmente do Partido “Socialista” português, não representa nenhum dos valores da esquerda: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Pelo contrário, manifesta-se como central ideológica do neo-liberalismo e social-fascista na política, ou seja, “socialista” nas palavras e fascista nos actos!
Por outro lado, a oposição política ao governo [nomeadamente o seu principal partido – o MpD -, apesar de ter no seu seio um núcleo significativo de gente séria e progressista] está minada pelo imobilismo, rendida ao partido do governo, sem capacidade de iniciativa.
Neste quadro, faz todo o sentido que pessoas que pensam à esquerda se organizem, numa primeira fase, num fórum de debate de ideias e discussão ideológica, tendo em vista a organização política da esquerda cabo-verdiana em novos moldes, por novos meios, reflectindo sob os ensinamentos da História, aprendendo com a luta de libertação dos povos que varre o mundo e anseia por um tempo novo de paz, terra, pão, liberdade e democracia.
Sejamos dignos do legado de Amílcar Cabral!