domingo, 10 de abril de 2011

Perceber o quotidiano

Há um sentimento generalizado, entre os cabo-verdianos, de que o nosso País é uma Nação à deriva, sem um rumo claro e navegando à vista, sem uma visão estratégica de desenvolvimento assente nas necessidades de justiça e progresso social.

Dois meses após a expressiva vitória eleitoral do PAICV, o desânimo e a insatisfação dominam as conversas de rua, as tertúlias dos cafés e os ajuntamentos dos mercados. Porque, como nunca na nossa História colectiva, tão rapidamente um chefe de Governo caiu em descrédito. O Zé Maria mentiu ao povo! Prometeu-lhe mais empregos e aumenta o desemprego; prometeu-lhe melhor qualidade de vida e intensificam-se os apagões e o aumento dos produtos essenciais. O povo que lhe deu o voto, os pobres que lhe venderam os bilhetes de identidade e os infelizes que alugaram a consciência por um saco de cimento e meia dúzia de verguinhas, são as vítimas de um político sem escrúpulos, de um mentiroso compulsivo e do seu bando.

Mas, mais do que analisar as particularidades bizarras do momento político que vivemos, importa reflectir sobre as causas, os responsáveis e as consequências de um mal antigo, indo às origens do problema e afirmando uma nova alternativa, uma nova reflexão sobre os destinos do nosso Cabo Verde. NOVA ESQUERDA está disponível para esse debate e faz a sua leitura:

- O Estado foi tomado por interesses oligárquicos, com o apoio activo dos governos à frente dos quais têm estado políticos medíocres, incompetentes e mentirosos.

- A corrupção aumentou ao longo dos últimos dez anos, em paralelo com o monopólio do poder exercido pelo PAICV, monopólio esse que tem promovido e protegido redes de interesses que se alimentam da promiscuidade entre as funções do Estado, a política e os negócios privados.

- A economia tem sido asfixiada pela visão estreita da oligarquia tambarina, refém do poder asfixiante dos bancos e das grandes empresas estrangeiras, as mais das vezes ligadas à esfera tentacular da Internacional “Socialista”, em particular ao Partido “Socialista” do “camarada” Sócrates. E, de igual modo, asfixiada pelo cerco às empresas cabo-verdianas - vítimas de um desadequado e injusto acesso ao crédito -, pela desenfreada exploração e as discriminações de muitos trabalhadores e trabalhadoras, os baixos salários, a inexistência de trabalho com direitos, de um salário mínimo e da violação sistemática do Estado de Direito, de que são exemplo evidente as manigâncias e negociatas promovidas por empresas “amigas” do partido, como é o caso da empresa do ex-ministro das infra-estruturas e actual candidato à Presidência da República, Manuel Inocêncio Sousa.

- As relações laborais, o mercado de trabalho e de emprego regem-se pela lei da precariedade e os jovens, tal como aconteceu na fase final do colonialismo, porque não têm hoje futuro dentro das nossas fronteiras, são empurrados para emigração.

- Cabo Verde é refém de um bando de criminosos internacionais que assentaram tenda na nossa Pátria, sacando o máximo possível no menor espaço de tempo e enriquecendo os membros da oligarquia tambarina.

- As pessoas estão descontentes, protestam entre si, insultam, dizem mal, mas ficam em casa, sentadas no sofá a olharem, cada vez mais cansadas e indignadas, as quotidianas novelas do "Mais Cabo Verde", encenadas nos noticiários da RTC.

- A sociedade ferve em surdina, mas não revela, ainda, condições objectivas para o protesto público, para um combate político e cívico que resgate o País do bando de arruaceiros e vigaristas que o dominam.

- Resultante das políticas e da acção dos Governos de José Maria Neves – e da indignidade, nunca assumida pelo PAICV, de 15 anos de ditadura de partido único, de violações aos direitos humanos e de patifaria -, o “socialismo” e a “social-democracia” de que se arvora o partido no poder é sinónimo de ideologia neo-liberal, anti-social e de direita.

- Há um generalizado descrédito dos partidos e da política, reforçado pelas elevadas percentagens de abstencionistas que deixaram de acreditar na utilidade do voto e na participação democrática.

- A grave crise social, a falta de políticas eficazes, a incapacidade dos agentes de Justiça, dos Tribunais a das Polícias [que oscilam entre a incompetência e a compulsão para a violação dos direitos humanos], colocaram a insegurança como uma das maiores preocupações dos cidadãos e dão rédea solta à acção criminosa dos thugs, protegidos pelo partido do poder e utilizados como tropa de choque contra a democracia.

- Ao mesmo tempo, não existem movimentos sociais, o associativismo popular está dominado pelo partido de JMN, refém da acção perniciosa dos comissários políticos, o sindicalismo é residual e, regra geral, “bem comportado” e o medo domina impedindo a ousadia de pôr em causa os poderes instituídos e “legitimados” pela trapaça eleitoral e a máfia dos interesses.

Feita a caracterização, importa agora encontrar as respostas e as alternativas que permitam ao País e aos cabo-verdianos encontrar-se numa plataforma de esperança e de confiança renascida nos ideais da liberdade e da democracia, bandeiras históricas da esquerda anti-autoritária.

O debate é público e aberto a todos.

Paz, terra, pão, liberdade e democracia!

Sem comentários:

Enviar um comentário