terça-feira, 5 de abril de 2011

Tomar a iniciativa

Falta esquerda na política cabo-verdiana, falta seriedade na política, é preciso um novo rumo para o País!
A última vitória eleitoral do PAICV, conseguida num quadro de burla sistemática e compra de votos, serviu para encher completamente o saco daqueles que, à esquerda, ainda esperariam um volte face num partido que, reclamando-se da herança de Amílcar Cabral, tem vindo a transformar-se nos últimos 10 anos – e sob a liderança de José Maria Neves – numa agência de empregos e numa central de corrupção.
Entendemos chegada a hora de a esquerda cabo-verdiana, órfã de partido mas moldada no legado de Cabral, tomar a iniciativa e começar a lançar para o domínio público as conversas silenciadas, de anos de frustração e impotência, na clandestinidade de pequenos círculos de intelectuais e trabalhadores nas ilhas e na diáspora.
O PAICV é imprestável, deixou de ter qualquer possibilidade de regeneração política, ética e ideológica. As suas fileiras estão completamente minadas pelo oportunismo, a corrupção e a sede de poder. É um partido dirigido por gangsters, por bandidos organizados que transformaram o que restava do partido de Amílcar Cabral numa associação criminosa.
O partido de JMN e de Filú – adversários internos, mas compinchas na actividade criminosa -, comparsa da Internacional “Socialista”, através da qual promove negócios com empresas amigas, particularmente do Partido “Socialista” português, não representa nenhum dos valores da esquerda: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Pelo contrário, manifesta-se como central ideológica do neo-liberalismo e social-fascista na política, ou seja, “socialista” nas palavras e fascista nos actos!
Por outro lado, a oposição política ao governo [nomeadamente o seu principal partido – o MpD -, apesar de ter no seu seio um núcleo significativo de gente séria e progressista] está minada pelo imobilismo, rendida ao partido do governo, sem capacidade de iniciativa.
Neste quadro, faz todo o sentido que pessoas que pensam à esquerda se organizem, numa primeira fase, num fórum de debate de ideias e discussão ideológica, tendo em vista a organização política da esquerda cabo-verdiana em novos moldes, por novos meios, reflectindo sob os ensinamentos da História, aprendendo com a luta de libertação dos povos que varre o mundo e anseia por um tempo novo de paz, terra, pão, liberdade e democracia.
Sejamos dignos do legado de Amílcar Cabral!   

5 comentários:

  1. Permita-me que lhe diga que pouco reflecte sobre a agenda liberal que o MPD levou a cabo , sobretudo nos últimos anos que esteve no poder; e da corrupção que abriu as portas para JMN chegar ao poder, dessa levada a cabo pelo MPD.Dizer que apenas está desorganizado é pouco, para alguém de esquerda ter um partido que disputa o poder e partilha da visão política da IDC e do PSD também é motivo de combate por uma alternativa em CV.Reconhece-se que para a transição para o multipartidarismo muitos militantes de esquerda foram e mantêm-se (talvez) no MPD. E para a termos a democracia que temos essa decisão foi importante. Tão importante que deve ser citada tal como Cabral é.Historicamente importante. Para quem terá tentado criar uma alternativa e terá desistido, a hora é de retomar.Não estamos a viver momentos de baixar os braços perante as inevitabilidades de regimes mas sim de lutar por alternativas. E desafiam-se muitos a acreditarem no poder cívico organizado fora do poder palaciano e da "eugenia política" do bipartidarismo. Coragem.

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  2. O debate apenas agora se inicia. Naturalmente que o período de governação do MpD merecerá observações e análise crítica. Mas, neste momento, parece-nos relevante central a análise política no período de governação do partido que está no poder. De qualquer modo, quer aqui quer no blogue, as nossas páginas estão abertas para a sua reflexão. Todos os contributos, à esquerda, são úteis para a procura de alternativas e de respostas.
    Mas, por outro lado, circunscrever o MpD à visão política da IDC e do PSD é um pouco redutor. Mais do que um partido, o MpD tem as características de uma grande frente heterogenia e contraditória. Basta ler o seu programa eleitoral para se perceber que convivem ali diversas perspectivas ideológias, umas mais à direita e outras à esquerda. E teve um papel relevante no fim da ditadura de partido único.
    Um Abraço!

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  3. O MPD foi um fenómeno complexo, e de facto parece-me ter havido um momento em que materializou o conceito "pós-moderno" dando-lhe corpo. Mas parece-me justo afirmar que existe um MPD logo a seguir à abertura política e outro que se candidatou agora. Não concorda? Será o MPD enquanto partido NO governo uma força mais ou menos liberal que o PAICV? Será o nacionalismo tambarina neste momento um factor progressista ou conservador? Que modelo económico uma esquerda crioula poderá levar a cabo no país? Haverá margem para uma distinção da actual estratégia de captação de IDE por inexistência de um salário mínimo,pelo actual tratamento fiscal, pela integração na OMC? Parece-me que poderia começar-se este debate por aqui.Concorda?

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  4. Concordamos haver diferenças assinaláveis entre o MpD que se seguiu à abertura e este que, recentemente se candidatou às legislativas. Se o primeiro tinha as características de ampla frente democrática, o segundo estreitou-se mais do ponto de vista ideológico. No entanto, mesmo assim há ainda alguma componente de frente e, nalguns casos, uma componente de esquerda que votou útil para derrotar José Maria Neves.
    De qualquer modo, para a esquerda - no nosso ponto de vista, que não é por isso mais ou menos respeitável que outras posições - importa começar a lançar bases para uma alternativa a esta alternância na política cabo-verdiana. Quem é mais liberal? O MpD ou o PAICV?
    No plano da economia, um e outro apostam no mercado (ou seja, na organização capitalista da economia). Se entendermos como liberal ser mais ou menos defensor da liberdade e das regras democráticas, poderemos dizer que, objectivamente, essa cultura mais aberta estará do lado do MpD - pelo menos do ponto de vista formal.
    Mas, como atrás se dizia, o que é essencial para a clarificação política é lançar as bases para a construção de uma plataforma de esquerda que a una em torno de um programa autónomo aos dois grandes partidos cabo-verdianos.
    As condições objectivas existem. Há um sector importante, urbano e culturalmente elevado que não se revê nos partidos da área do poder. Falta dar corpo às condições subjectivas, nomeadamente:
    1. Promover e alargar um debate sério sobre a política e a sociedade cabo-verdianas.
    2. Definir um programa mínimo alternativo: ideológico, político, social e económico.
    3. Construir uma plataforma orgânica de confluência das esquerdas cabo-verdianas.
    O nosso trabalho ainda está no início e, verdadeiramente, ainda não entrou pelo ponto 1 desta agenda de prioridades.
    Aos leitores fazemos apelo para que opinem e polemizem livremente neste espaço.

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  5. Liberalismo de mercado, é que queria dizer. Estão com força para remar contra a maré? Por promover uma economia não-capitalista num pequeno país num globo capitalizado?

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